Atualmente, a maioria dos ucranianos são cristãos e falam de sua fé abertamente, porém, muitos estão se perguntando até quando essa liberdade vai durar.
Na Ucrânia, a maior parte do país se identifica como cristã e quase dois terços pertencem a ramificações da Igreja Ortodoxa. Porém, com o atual cenário da invasão russa, muitos estão se perguntando até quando essa liberdade vai durar.
Nos tempos da antiga União Soviética (URSS), a vida dos cristãos na Ucrânia não era fácil, bem como nos demais países da região. Não havia liberdade de religião naquele contexto.
Nos últimos anos, porém, embora a manifestação cristã no país não fosse totalmente bem vinda, já era possível ver o progresso. Havia alguma perseguição, mas nada que se possa comparar com a situação dos países onde a Igreja é perseguida com extrema violência.
Em 2018, há relatos de igrejas que foram fechadas em regiões dominadas por rebeldes, conforme a Portas Abertas. Por outro lado, em Kiev, os cristãos estavam vivendo sua fé e trabalhando proativamente, de acordo com Alan Hall, em entrevista ao Christian Post.
Bíblias sempre foram necessárias
Alan foi presidente de desenvolvimento internacional da Portas Abertas, na década de 1980, e compartilhou como era difícil expressar qualquer forma de testemunho cristão na época de domínio da antiga URSS.
Ele lembra que o recurso mais procurado em todas as nações soviéticas era a Bíblia. Na época, o Irmão André — fundador da Portas Abertas — ficou conhecido por contrabandear Bíblias em seu famoso fusca azul, arriscando a própria vida.
“Há mais de três décadas, porém, que isso não é mais necessário entre os ucranianos, pois a Ucrânia deixou a URSS em 1990”, lembrou. Mas, algumas nações pós-soviéticas caíram no totalitarismo, não desfrutando da mesma liberdade.
Até quando a liberdade vai durar?
Nos últimos dias, à medida que os tanques russos avançam sobre as grandes cidades, os cidadãos foram às ruas para lutar, com medo de perder as liberdades vitais, como a democracia.
Quanto à liberdade religiosa, os cristãos refletem se podem voltar aos maus tempos de igrejas clandestinas e Bíblias contrabandeadas. Isso porque conhecem bem a Constituição russa e a lei Yarovaya, conhecida também como lei antimissionária, aprovada em 2016.
Sobre as leis antimissionárias russas
O governo russo impôs restrições e controles legais sobre as igrejas e muitos pastores têm enfrentado interrogatórios e fechamentos das igrejas que administram.
No entanto, de acordo com Rolf Zeegers, que trabalha como analista de perseguição para a Portas Abertas, mesmo que a invasão russa seja bem-sucedida, é improvável que as igrejas da Ucrânia vejam um retorno aos dias soviéticos.
“Não precisamos esperar a implementação da legislação anti-missionária da Rússia na Ucrânia. No entanto, haveria restrições”, ele observou.
“As igrejas poderiam ser impedidas de receber fundos do exterior, mas não acredito numa onda de prisões e detenções”, disse ao considerar, porém, que nas duas regiões ‘rebeldes’, Donetsk e Luhansk, novos líderes buscaram apoio em Moscou e viram as igrejas despojadas de algumas de suas liberdades desde 2014.
Mesmo assim, ele continua otimista ao dizer que a situação dessas regiões de rebeldes é diferente. “Por lá, eles acabaram desenvolvendo suas próprias políticas em relação à religião. Autoridades confiscaram literatura cristã e igrejas foram impedidas de se reunir quando as autoridades regionais lhes negaram o registro necessário”, relatou.
Como vive a Igreja na Rússia
Segundo o analista de perseguição, uma diferença fundamental entre hoje e os dias da ocupação soviética é que a Rússia do presidente Vladimir Putin não é um estado ateu.
“De fato, para afirmar seu nacionalismo, Putin tem se aproximado da antiga Igreja Ortodoxa Russa nos últimos anos. Os líderes da Igreja muitas vezes desaprovam a presença de outras denominações, incluindo batistas e até católicos romanos em uma região que eles consideram legitimamente sua”, disse.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana está presente há quase 500 anos. E, em 2019, foi oficialmente reconhecida pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla como uma Igreja Ortodoxa legítima por direito próprio, finalmente cortando os laços com o Patriarcado de Moscou.